Por: Ricardo Almeida
Atuar no setor da saúde exige cuidados redobrados para evitar a contaminação do profissional, da sua equipe e dos pacientes. No caso do dentista, os riscos são ainda maiores. Por isso, é fundamental entender e cumprir as boas práticas de biossegurança no consultório.
A Odontologia expõe o profissional a sangue, à saliva e a outras secreções, inclusive no atendimento mais básico. Assim, as regras para se proteger dos possíveis riscos de infecção precisam ser cumpridas, até mesmo, em tratamentos mais simples.
A preocupação com essa questão ganhou proporções maiores com a pandemia da Covid-19. Para discutir esse assunto e orientar quanto às principais práticas de biossegurança, entrevistamos o Dr. Ricardo Sergio Couto de Almeida, Professor Adjunto do Departamento de Microbiologia, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Acompanhe!
Quais mudanças a pandemia trouxe em relação à biossegurança no consultório?
A primeira questão é a preocupação que o dentista deve ter com a qualidade do ar. Desse modo, é necessário fazer a limpeza e a manutenção do ar-condicionado com mais frequência.
A questão do aerossol também ganhou um foco maior, pois há chance de infectar tanto o paciente quanto o profissional. Esse risco já existia antes do Sars-Cov-2 para outros microrganismos, mas não era uma grande preocupação do dentista.
O uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) ganhou mais destaque, como a máscara N95, que filtra gotículas e aerossol, que já era utilizada em alguns países. Contudo, no Brasil, não havia esse cuidado, sendo que a mais usada era a máscara cirúrgica, antes da pandemia.
Junto a esse item, temos o face shield, que alguns profissionais já usavam, mas agora mais dentistas passaram a utilizar.
O avental de TNT, que é descartável para cada paciente, também é uma medida de biossegurança no consultório. É um item que não deve ser lavado, pois perde a barreira eletrostática, responsável pela proteção.
Nos procedimentos de endodontia, qual mudança a Covid-19 trouxe?
Prof. Dr. Almeida comenta que, na endodontia, vários dentistas negligenciavam a fase do isolamento absoluto. Embora sempre foi recomendado o uso do dique de borracha (isolamento), que atualmente ganhou grande destaque, pois a água gerada pela caneta de alta rotação bate na borracha, e não nos tecidos bucais.
É uma medida importante, visto que a água que sai dos equipamentos não está contaminando o ar. Isso só ocorre quando entra em contato com os tecidos bucais, o que gera o aerossol com risco.
Quais são as principais fontes geradoras de aerossol no consultório e como minimizar a contaminação?
Os principais geradores de aerossol no consultório odontológico são:
- Aparelho de ultrassom;
- Jato de bicarbonato de sódio;
- Seringa tríplice;
- Caneta de alta rotação.
Todos esses itens são passíveis de causar contaminação cruzada no ambiente odontológico. Embora a caneta de alta rotação produza mais gotículas, elas depositam-se nas superfícies da sala de atendimento em um raio de 2 metros — por serem maiores, a quantidade de microrganismos nelas também é maior.
Ações de biossegurança para minimizar esses riscos são:
- Atendimento realizado a 4 mãos;
- Esterilização dos materiais odontológicos que não são descartáveis;
- Proteção com EPIs (máscara N95, face shield, óculos, gorro, jaleco e avental);
- Bochecho com enxaguante efetivo;
- Sucção de alto volume com um sugador mais calibroso ligado a uma bomba a vácuo.
A pandemia criou a preocupação com a sucção, visto que, ao sugar o aerossol gerado, a contaminação diminui. No entanto, ainda não há sugadores de alto volume no mercado, que são eficientes. O bochecho do antisséptico é outra medida para reduzir a contaminação de microrganismos no aerossol e que tem bons resultados.
Em relação à paramentação e desparamentação, como deve ser a rotina do dentista? Uma regra importante é:
- A paramentação tem que começar fora e terminar dentro da sala de atendimento;
- A desparamentação começa dentro da sala de atendimento e termina fora.
Paramentação
Na paramentação, a sequência é a seguinte.
Fora da sala:
- Higienização das mãos;
- Máscara N95,
- Óculos de proteção
- Gorro;
Dentro da sala:
- Face shield;
- Avental;
- Lavagem das mãos;
- Luvas.
Desparamentação
Para a desparamentação, é só fazer o caminho invertido: tirar as luvas, lavar as mãos, retirar o avental e o face shield e sair da sala. Já fora do ambiente de atendimento, o dentista retira o gorro, os óculos, a máscara N95 e, depois, lava as mãos.
Quais são os principais riscos aos quais o dentista está exposto?
Além de contato com o aerossol, acidentes com agulhas e instrumentos cortantes são frequentes entre os dentistas. Dessa maneira, há diversos riscos de contaminação, como:
- HIV — sendo que o risco é baixo por conta do coquetel de medicamentos que os pacientes tomam, sendo que muitos nem apresentam carga viral;
- Hepatite B — apesar de ter vacina, é transmitido por sangue, saliva e secreção;
- Tuberculose — doença em que há incidência em alguns locais do país;
- Hepatite C — que não tem vacina;
- Gripe;
- Difteria;
- Herpes — que é extremamente contagioso, sendo que, ao gerar aerossol, a contaminação pode atingir o olho do dentista;
- Mononucleose.
Um ponto importante é que o uso do avental de TNT descartável para cada paciente e de outros itens tem ocasionado um aumento na geração de lixo no setor da odontologia após a pandemia, o que, consequentemente, impacta diretamente o meio ambiente.
A pandemia trouxe mudanças para o dia a dia do dentista, exigindo atenção às medidas de biossegurança no consultório. A proteção é essencial para evitar contaminação não só pela Covid-19, mas por outras infecções, tornando, assim, o atendimento seguro para a equipe de profissionais e para o paciente.
Fonte: http://blog.angelus.ind.br/biosseguranca-no-consultorio/